Extremamente Verdadeiro & Incrivelmente Doído

Reparei que muita gente não conhece o trabalho do genial Jonathan Safran Foer, autor de duas obras primas da literatura contemporânea: "Tudo se Ilumina" (Everything is Illuminated, que inclusive já virou filme) e o "Extremamente Alto & Incrivelmente Perto (Extremely Loud and Incredibly Close). Esse último, o melhor livro que eu li em 2007, sem a menor sombra de dúvida.

Então, graças a fofíssima Nathalia Andrade, que teve toda a paciência do mundo para digitalizar algumas páginas, vou poder chupinhar do blog dela um pedaço (um dos melhores) dessa obra. Brigadão Nath!


"O aeroporto estava cheio de pessoas indo e vindo. Mas éramos apenas eu e seu avô.

Peguei seu diário e vasculhei páginas. Apontei para É tão frustrante, é tão patético, é tão triste.

Ele procurou no diário e apontou para O modo como acabou de me alcançar essa faca.

Apontei para Se eu tivesse sido outra pessoa em um mundo diferente, teria feito algo diferente.

Ele apontou para Às vezes a gente só quer desaparecer.

Apontei para Não há nada de errado em não compreender a si próprio.

Ele apontou para É tão triste.

Apontei para E alguma coisa doce não cairia mal.

Ele apontou para Chorei e chorei e chorei.

Apontei para Não chore.

Ele apontou para Debilitado e confuso.

Apontei para É tão triste.

Ele apontou para Debilitado e confuso.

Apontei para Algo.

Ele apontou para Nada.

Ninguém apontou para Eu te amo.

Não havia como se esquivar daquilo. Não podíamos passar por cima nem andar até a beira.

É lamentável que se precise de uma vida inteira para aprender a viver, Oskar. Porque se eu pudesse viver minha vida novamente, faria tudo de uma maneira diferente.

Mudaria minha vida.

Beijaria meu professor de piano mesmo que ele risse da minha cara.

Pularia na cama com Mary mesmo que agisse como boba.

Enviaria fotografias feias pelo correio, milhares delas.

O que vamos fazer, ele escreveu.

É com você, eu disse.

Ele escreveu Quero ir pra casa.

O que é casa para você?

Casa é o lugar com a maior quantidade de regras.

E o compreendi.

E vamos ter que criar mais regras, falei.

Para que seja ainda mais casa.

Sim.

Tá.

Fomos direto para a joalheria. Ele deixou a mala na salinha dos fundos. Aquele dia vendemos um par de brincos de esmeralda. E um anel de noivado com diamante. E uma pulseira de ouro para uma menina. E um relógio para alguém que estava de partida para o Brasil.

Aquela noite nos abraçamos na cama. Ele me beijou toda.

Acreditei nele. Eu não era idiota. Era sua esposa.

Na manhã seguinte, ele foi para o aeroporto. Não tive coragem de sentir o peso de sua mala.

Queria que ele viesse para casa.

Horas se passaram. E minutos.

Não abri a joalheria antes das 11h00.

Esperei na janela. Ainda acreditava nele.

Não almocei.

Segundos se passaram.

A tarde se foi. A noite caiu.

Não jantei.

Anos se passavam no espaço entre os momentos.

Seu pai chutou dentro de minha barriga.

O que ele estava tentando me dizer?

Coloquei a gaiola dos pássaros diante das janelas.

Abri as janelas e abri as gaiolas.

Joguei os peixes no ralo.

Desci com os cães e gatos pela escada e retirei suas coleiras.

Larguei insetos na rua.

E os répteis.

E os camundongos.

Vão, eu disse a eles.

Todos vocês.

Vão.

E eles foram.

E não voltaram."


Além de ser absurdamente bem escrito, esse livro também tem um approach todo especial para nós designers, pois tem um dos projetos gráficos mais bonitos e conceituais que eu já vi.
Esse trecho corresponde às páginas 203, 204, 205.
E você pode comprar os livros desse jovem e promisso escritor aqui.
Ou saber mais sobre ele aqui.
Mais do que recomendado, eu diria.

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